De volta
Em minha mais remota juventude – remota no sentido real do termo – conhecia uma música, das muitas que conheço a letra, cantada, se não me engano, por Carmem Miranda, cujos autores eram Vicente Paiva e Luiz Peixoto, se não me falta a memória, que, nos versos iniciais, dizia: “Voltei pro morro/ Quero ver o meu cachorro/ Meu cachorro vira-lata, minha cuíca, meu ganzá”. Desafinado e melancólico (como diria Drummond), além de não cantar, para não o fazer de forma grotesca, e não sendo afeiçoado a cachorros – nem aqueles considerados “nobres” –, tampouco por não ter intimidade com cuícas – instrumento (cuja origem é atribuída aos africanos, existindo, porém, quem afirme que é indiana) que acho possuidor de um som belíssimo –, nem com ganzás (o qual, por sua vez, teria vindo dos nossos índios, tendo sua origem no maracá e no pau de chuva, embora alguns lhe atribua origem africana), mesmo reafirmando minha volta, ao chegar a Valença, terminei por optar por evocar não mais a música de Vicente Paiva e Luiz Peixoto, mas outra, bem mais recente, de Dominguinhos e Nando Cordel, que Elba Ramalho cantou, cuja letra, bem mais romântica, diz: “Estou de volta pro meu aconchego/ Trazendo na mala bastante saudade/ Querendo/ Um sorriso sincero, um abraço,/ Para aliviar meu cansaço/ E toda essa minha vontade/ Que bom, / Poder tá contigo de novo...”
Contentar-me-ei em parar por aqui, já que os versos de Nando do Cordel são claramente de cunho amoroso, no caso de relação entre uma mulher e um homem, cujo sentido desejo alterar, não só para não gerar (nestas épocas de tantas opções sexuais heterodoxas) confusão, mas para dar-lhe um sentido claro de amor fraterno entre pessoas, uma vez que o meu aconchego, no sentido que estou pensando, é a cidade onde moro, Valença BA, e a essas visitas esporádicas neste blog.
Assim sendo, é natural que traga muitas saudades, não só da cidade em si, mas dos amigos que possuo em ambas, cidade e mundo virtual. Claro que da parte daqueles que me são mais íntimos, espero mesmo “um sorriso sincero, um abraço” e – por que não? – um singelo “seja bem-vindo”. Porque gestos assim significam um alívio ao cansaço do corpo, ocasionado pelo efeito da radioterapia, como também por funcionar como um bálsamo para aliviar a fadiga d’alma. Resultando, pois, em mais forças para ver-me livre de toda essa vontade de trabalhar pela cultura. Dessa forma, só posso usar da letra da segunda canção para dizer: que bom poder estar com vocês de novo.
Araken Vaz Galvão
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