TRADIÇÕES DO NATAL: O PRESÉPIO
Devido ao Censo ordenado pelo Imperador Augusto, a família de Jesus teve
que se deslocar para Belém da Judéia e,como era de se esperar,não encontrou
acomodações dignas para Maria,grávida de nove meses.
Aflito,José os acomodou numa gruta ou cabana,fazendo uma caminha de
palha para o Menino,nascido há pouco.
Este lugar, sem conforto,mas,limpo e seco,era onde se colocavam os
animais para descanso e se chamava presépio,ou curral,ou estábulo.
A primeira representação do presépio
ligado ao nascimento de Jesus,foi feita na Itália,no sec.XII,por São
Francisco de Assis,em forma de teatro popular. Difundido por toda a Europa
cristã ,no sec.XVI,teve,em Portugal,o seu ápice,com as autarquias bancando a
festa,como na Vila Nova de
Famalicão,cujo presépio era considerado o mais belo.
Dele constava a Sagrada Família, anjos ,animais,como a vaca e o
burrinho,além de figuras portuguesas típicas como o moleiro e seu moinho,a
lavadeira,os bailarinos,a mulher com o cântaro na cabeça,as figuras em
barro,verdadeiras obras de arte.
No Brasil do sec. XVIII,os presépios eram parecidos com os
portugueses;os pintores,encarnadores de
imagens,artistas populares,se esmeravam na confecção das figuras. Cidades,montes,rios,tudo
era fabricado e formava o cenário propício à tão bela tradição.
As encomendas eram muitas e os ganhos, fartos.
Ganhadeiras, trazendo grandes tabuleiros à cabeça, apregoavam esses
artefatos,chamando a atenção dos compradores balançando um chocalho de folha de
flandres e cantarolando:
As barras do dia
Já vem clareando;
Que belo menino
Na Lapa,chorando.
Era a certeza que o Natal vinha chegando.
Igrejas, conventos e casas de família armavam seus presépios cada uma
querendo ser melhor que o outro,para
isso não medindo esforços nem gastos.
O mais afamado presépio da época era o da Soledade, pela beleza das
figuras,obra do grande escultor Bento Sabino dos Reis.
Nesta época,em Portugal e quiçá,na Bahia,o presépio era armado no
Advento,porém,sem o menino,colocado na noite de 24 de dezembro,após a Missa do
Galo.
Logo cedo, toda a família, escravos,agregados se mobilizavam para a construção do presépio;os fâmulos saiam á
busca das folhas de pitangueira,pinhas e
das frutas do Natal que colocavam sobre uma mesa,os galhos arqueados
formando arcadas,enfeitados de flores
silvestres e pequenos frutos.
No interior da Lapa, formada,quase sempre de papel grosso pintado de
tinta marrom,repousava o Menino,entre palhas,de um lado a Virgem,do outro,São
José,os demais personagens,os pastores e os Reis Magos,em profunda adoração.
Pessoas embasbacadas abriam a boca de admiração: estava lá o monte
escarpado, as águas cristalinas,correndo sinuosas,tendo ao fundo a cidade de
Belém com suas torres,zimbórios e fortalezas;os três reis com seus
criados;animais de carga.Diversas árvores e arbustos,animais de
criação,pastores com oferendas,figuras portando túnicas de linho e sandálias.
No alto,céu de estrelinhas douradas,feitas de papelão e areia
brilhante,nuvens de algodão.
Contempla o quadro divino
São José,ajoelhado,
E a Santíssima Maria
De Jericó, meiga flor.
As moças e matronas da família, além das visitas, cantavam:
Santo,santo,santo
Hoje é quem brilha
Salve o Verbo Encarnado,
Deus e maravilha.
Depois, seguia-se a lauta ceia com muitas iguarias, o vinho do Porto,os
frutos saborosos e carnudos,o roxo vinho Figueira,os licores,a doçaria;bebia-se
à saúde da dona da casa e até ao Deus Menino. Depois, uma animada função,como se
chamavam os bailes ,que se prolongavam até o amanhecer, pois, nesta noite
feliz,ninguém dormia.
E a tradição continua. Em Recife ,o escritor Melquíades Montenegro tem
uma coleção de mais de 700 presépios,coisa linda de se ver.
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